Uma Aventura no Mundo de Helena de Tróia


"O Destino de Helena como mulher espartana - segundo os que os autores da Antiguidade nos querem fazer crer - era passar de vítima de estupro a noiva-criança, amante infiel, concubina-troféu e, finalmente, esposa devotada. As fases de sua vida foram marcadas por características sexuais. Quase nenhuma atenção foi dada aos anos em que não houve algum tipo de encontro erótico inebriante. Não é coincidência que Helena desapareça da poesia de Homero tão logo deixa de ser perseguida por homens. A última vez em que a vemos na Odisséia, ela se dirige ao leito com Menelau no palácio de Esparta, quando o casal real regressa de Tróia. Homero não se interessa por ela depois que envelhece. Através das muitas reviravoltas de sua vida terrena, essa Helena da literatura encontra muitos homens e aprende a tratar, até bem mais, com as manifestações - e as consequências - da urgência carnal".

"Helena de Tróia",  de Bettany Hughes, Ediotra Record é um grande livro - literalmente - para quem gosta de mitologia e história grega. Me demorei um pouco no começo, pois acaba sendo muita informação para se arquivar e você precisa ir se situando na história, mas depois a leitura cria ritmo e se desenrola bem.
Acabamos sendo apresentada não só à um momento enigmático da história, que foi a Guerra de Tróia, mas também à uma cultura desde sempre, machista, preconceituosa e violenta. Descobrimos que, desde sempre, a mulher é vista apenas como um corpo, um ser inferior que está aqui para satisfazer seus 'donos'. Helena é, antes de um ser mitológico, uma mulher de fibra e inteligente.
E toda essa fascinação não é por menos.
Durante o livro, um estudo pra lá de detalhado, vamos encontrando alguns personagens intrigantes e outros questionáveis da mitologia grega, conhecendo a constituição do mapa geográfico da época, é muito legal.
Os museus em todo o mundo ostentam obras que mostram Helena em vários momentos da história e em sua evolução como ídolo - menina, rainha, semideusa, prostituta -, mas todas essas imagens, sem exceção, são inventadas; não a revelam como era, e sim como os homens queriam que ela fosse. Como a história de Helena não é apenas uma, mas mutas, repetidas vezes contadas em toda Europa e no Mediterrâneo oriental, a autora também percorre esse território a fim de juntar uma gama de "Helenas". Não existe um caminho único que conduza à verdade de Helena de Tróia, mas diversos, que se entrelaçam no tempo: Helena vai além do registro histórico, e, quando faltam fontes escritas, Bettany Hughes deixa que os objetos, a arte e o panorama falem também.
Desde menina, tenho um certo fascínio por mitologia, e de quebra, pela bela história de Helena. Esse livro mostra muito bem o contexto da história e toda a trajetória dessa heroína, desde sua concepção até o túmulo.
Boa leitura!

Cláu Trigo

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