Precisamos Falar Sobre Quem? - Resenha/Desafio


"Ela acendeu em mim o mesmo orgulho que eu esperava um dia fosse inflamar nosso filho, depois que ele tivesse idade suficiente para apreciar os feitos dos pais. Uma ou duas vezes eu inclusive acalentara uma estranha fantasia,, na qual via Kevin debruçado sobre minhas velhas fotos perguntando muito empolgado: Onde é isso? O que é aquilo? Você já foi à ÁFRICA? Uau! Mas a admiração de Siobhan mostrou ser cruelmente enganosa. Kevin de fato se debruçou sobre uma caixa com fotos minhas, uma vez - com uma lata de querosene nas mãos."

Talvez um dos livros do desafio mais aguardado por mim.
"Precisamos Falar Sobre o Kevin", Editora Intrínseca, de Lionel Shriver. Foi uma leitura pesada, no começo bem difícil e lenta, mas que me deu um tiro na última página.
Vou ser sincera, até mais ou menos a metade do livro, a leitura para mim estava bem mediana. Não conseguia ver tudo aquilo que as pessoas falavam sobre ele. E nem preciso ir muito longe, minha mãe simplesmente AMA o Kevin, vive analisando o Kevin, sempre "precisando" falar sobre o Kevin. Então, a melhor maneira de falarmos sobre o Kevin foi coloca-lo no desafio - assim era certeza que leria!
O livro todo se passa entre cartas mandadas pela mãe de Kevin - um garoto que aos 15 anos matou onze pessoas - para seu marido, depois de um ano do trágico acontecimento. Nestas cartas, ela vai revezando entre o presente, relatando suas visitas ao filho preso, e o passado, lembrando do atos horríveis que Kevin cometia desde que era pequeno.
O livro o tempo todo vai fazer a gente parar a leitura e pensar de quem é a culpa dele ter virado esse psicopata. Existem vários problemas de todas as partes que resultou nisso. Vou falar tanto da mãe quanto do pai, porque ambos têm culpa no cartório.
Primeiro vou começar pela mãe, que é a mais atacada no livro e o que a maioria do leitores acham que é a única culpada. O grande problema dela é que ela nunca quis ter um filho. Ela ficou grávida com a justificativa de ter um "assunto" para falar no futuro, quando ela e o marido fossem mais velhos. E isso, querendo ou não, meio que é sentido por qualquer filho. E a resposta de uma criança é qual? Chamar a atenção. Porém o Kevin fez isso da pior das maneiras. E aí que entra a culpa do pai, que na minha opinião, é tão grande quanto da Eva (mãe).
O pai só piorava a situação. Em todas as vezes que o Kevin aprontava e Eva surtava, Franklin (o pai) sempre tinha uma desculpa para justificar o que ele fazia. Tinha momentos que estava óbvio que o Kevin tinha machucado um colega da escola ou da vizinhança, e em quem ele colocava a culpa? Claro! Na mãe, porque infelizmente a culpa é sempre delas para muitos. A questão é a seguinte: ele era (ou ficou) cego para as ações feitas pelo seu filho.
“É sempre culpa da mãe, não é verdade?”, disse ela, bem baixinho, pegando o casaco. “Aquele menino deu errado porque a mãe dele bebia, ou se drogava. Ela deixava o garoto solto na rua; ela não ensinou a ele o que é certo e o que é errado. Nunca estava em casa quando ele voltava da escola. Ninguém nunca diz que o pai era um bêbado, ou que o pai nunca estava em casa quando o garoto voltava da escola. E ninguém jamais diz que alguns desses garotos não prestam e pronto. Não vá você acreditar nessa balela. Não deixe que eles ponham nas suas costas essa matança toda. (...) É duro ser mãe. Ninguém nunca aprovou uma lei que diz que para alguém ficar grávida tem que ser perfeita. Tenho certeza de que você tentou ao máximo. Você não está aqui, nesse fim de mundo, numa bela tarde de sábado? Você continua tentando. Se cuide, meu bem.”
O que me cansou um pouco a leitura foi ela contando seu dia a dia, que era uma chatice. Também, não era para menos, já que ela tinha perdido tudo, porém ainda assim era cansativo. No entanto, depois que peguei o ritmo da leitura e da escrita o livro foi super rápido - dentro do possível, porque não é um livro que dá para ler muitos capítulos.
É um livro muito forte e que não sei se é para todo mundo. E que traz questões ainda hoje muito importantes e que não sei se tem resposta. De quem é a culpa? A pessoa já nasce má, ou ela se torna? Poderia reverter a situação?
Agora preciso assistir o filme e ver se conseguiu passar toda a aura pesada do livro e essas mesmas perguntas.

Até a próxima e boa leitura!
Carol!!!

2 comentários

  1. Oi Carol, tudo bem?
    MORRO DE VONTADE DE LER ESSE LIVRO! Sério! É muito caro comprar uma edição nova (a pobre kkk) então sempre que entro nos sebos da vida, vou direto procurar ele, mas até hoje não achei :(
    Bom, ainda não li o livro, mas o que sei sobre psicopatia é o seguinte: nem o pai nem a mãe tem culpa de nada. A pessoa simplesmente nasce com este transtorno mental. Claro que os pais podem influenciar positiva ou negativamente neste comportamento, mas a psicopatia nasce com ela.
    Enfim, amei sua resenha e nem preciso dizer que bateu um desespero querendo ler ele logo, né? hehe.

    Um beijo.
    htpp://winterbird.com.br

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    1. Sim, ele ultimamente anda muito caro... A minha sorte é que a minha mãe comprou logo na época do lançamento.
      Até concordo contigo, porém se os pais (neste caso) tivessem percebido bem antes, nunca teria chegado a isso. Além de que eles não podiam ter um filho, então acredito que indiretamente eles influenciam.
      Rsrsrs, que bom que gostou. Quando achar em sebos leia o quanto antes que vale muito.
      Bjss

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