Lolita - Desafio Superado.



"Repasso seguidamente estas desgraçadas memórias e fico me perguntando se foi então, no resplendor daquele remoto verão, que se abriu a fenda em minha vida: ou será que meu excessivo desejo por aquela criança foi apenas a primeira manifestação de uma particularidade inata? Quando tento analisar minhas ânsias, meus atos e motivos, entrego-me a uma espécie de devaneio retrospectivo do qual brota uma infinidade de alternativas, fazendo com que cada caminho visualizado se bifurque sem cessar na paisagem alucinadamente complexa do meu passado. Porém, tenho como certo que, de alguma forma mágica e fata, Lolita começou com Annabel."

Olha só, li pela primeira vez "Lolita", de Vladimir Nabokov, Editora Biblioteca da Folha, no auge dos anos 90, quando ainda era uma adolescente sem muita "personalidade", morando no interior do Estado de São Paulo e sem tantas informações de apoio como agora.
Resolvi relê-lo para nosso desafio 2016 e, putz, com o passar dos anos como nossas opiniões vão se transformando, se fortalecendo e nos "apoiando". Não me lembro, ao certo, na época que li o que achei do livro, nem consigo me lembrar se tive uma opinião formada sobre!
Vocês podem rirem agora, sei que temos muitos seguidores na "flor da juventude" - como eu na época - e que vão achar estranho minha visão. Salvo o fato dos tempos serem outros e vocês serem privilegiados de serem a "geração internet", eu, uma coitada de Deus, não tinha muita referência para me basear a não ser a útil e boa Biblioteca - hoje, tão decadente e quase sem moral! - e falo disso com propriedade, depois de longos e belos 4 anos de trabalho árduo e duro na Biblioteca local. Atendíamos mais de 200 leitores exigentes e famintos por dia, numa cidade pequena. Hoje, na grande São Paulo, com a linda Biblioteca da Henrique Schaumann a 2 quarteirões de casa, ainda acredito nela e passo lá vez ou outra para matar a saudades dos velhos tempos, vejo um local solitário, com alguns exigentes e nostálgicos expectadores de dias bucólicos.
Mesmo nos tempos dourados da tecnologia, ainda acredito no velho e bom livro, e vou  mais além, acredito que nossas Bibliotecas possam reduzir de unidades, mas NÃO deixaram de existir - rezo por isso todos os dias, para o deus dos livros, por favor, senhor, salve nossas bibliotecas!
E com toda essa tecnologia, em outros tempos, me aproveito desta para consolidar minhas opiniões.
Voltando ao nosso livro, sem me lembrar bem de "velhas" opiniões, às novas não são muito boas e vem lotada de argumentos.
Relendo "Lolita" hoje, me deparo com uma assunto polêmico e atual PEDOFILIA. Um romance escrito às escuras em 1955, numa época em que esse assunto era tratado mais como pornografia e nem se sabia o que era pedofilia, hoje meus olhos se voltam à um assunto muito deliciado e que em outrora foi "romantizado" por seus ator.
Não consegui digerir suas páginas, me vi diante de um dilema sério - mãe, leitora, fantasia, profissional - complicado escolha.
Como leitora e me deixando convencer pela fantasia, não me convenci.
Como mãe e profissional analítica, por mais que Nabokov repudie sua criação, também repudia um dos maiores cientista de seu tempo - Freud!-  e faz isso vestindo os trajes de seu personagem, e isso o torna tão doentio quanto HH.
Um enredo cansativo, doentio - sim minha gente, HH é um cara doente, obcecado e narcista. Um personagem sem carisma, que não cativa e não convence.
Não consigo nem considerá-lo um clássico, já que se tornou "imortal" mais por ser polêmico do que concretizar ideias originais, revolucionárias e capazes de mudar uma geração. Não acho - e espero de coração! - que esse assunto não tenha sido incorporado por mentes insanas a ponto de achar que um homem de 40 anos possa manter um "relacionamento" com uma criança de 12 anos e achar que isso é normal.
Um livro arrastado, longe de um contos de fadas "moderno", polêmico por estratégia, sem luz, sem alma, sem nada. Apenas um crime romantizado, uma história às avessas de como não se deve conseguir fama por caminhos obscuros.
Só lamento!
NÃO consigo ter um Olhar diferenciado para esse assunto, não consigo ser apenas uma espectadora de um assunto tão sério e achar que tudo bem! Não vejo "Lolita" um livro recomendável, não vejo um grande escritor por trás de um grande livro, não vejo nada. Vejo sim, um doentio Nabokov liberando nesse volume seu lado mais sombrio.
Já dizia nosso mestre Stephen King:

"Acho que seria justo perguntar se o Paul Sheldon de Misery sou eu. Certas partes dele são... mas acho que você vai descobrir, se continuar a escrever ficção, que TODOS os personagens têm um pouco do autor..."
(Sobre a Escrita)

Sem mais!

Cláu Trigo

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