Rumo ao Farol - Resenha/Desafio


"Será que a Natureza completa aquilo que o homem produz? Termina o que ele começa? Com a mesma complacência via a sua miséria e perdoava sua baixeza aceitando suas torturas. Sonho de compartilhar, de completar, de encontrar sozinho, na praia, uma resposta, seria então apenas a imagem num espelho, e o próprio espelho não seria mais que a superfície transparente quando forças mais refinadas repousam tranquilamente sobre ela? Impaciente, desesperado, mas ao mesmo tempo resistindo a partir (pois a beleza oferece seduções, possui consolações), sentia-se que caminhar pela praia era impossível; que a contemplação era insuportável; que o espelho se quebrara."

Essa foi uma leitura difícil. Tinha acabado de ler "Feche Bem os Olhos", John Verdon e estava pilhada. Quando comecei "Rumo ao Farol", Virginia Woolf, da Biblioteca Folha, (ele fazia parte, também, do meu desafio 2016) a leitura não fluía, lia algumas poucas linhas e já estava dispersa, era muita adrenalina do outro livro e "Rumo ao Farol", convenhamos: não é um livro muito "dinâmico". Resultado: não consegui acaba-lo a tempo para resenha-lo ainda em Janeiro, mas não desisti. E valeu cada minuto.
Quando o cérebro voltou ao seu estado "normal", a leitura foi rápida e gostosa! Em menos de 24 horas o livro estava terminado e a mente já funcionava à toda para compreender tanta informação, e histórias misturadas, e ligadas, e tudo aquilo virou uma grata recompensa.
A literatura produziu clássicos absolutos falando de viagens. O retorno de Ulisses a sua casa, na Odisséia; o périplo de Dante, na Divina Comédia; as andanças do nosso queridíssimo cavaleiro Dom Quixote. Um simples passeio de barco, a uma ilha vizinha, pode render um clássico? Na mão de Virginia Woolf, sim!
Virginia Woolf foi uma das principais inovadoras da prosa inglesa no século 20. A partir do romance "O Quarto de Jacob" (1922), a autora começou a desenvolver um estilo próprio, baseado no fluxo da consciência e no tempo psicológico. Nesse sentido, "Rumo ao Farol", de 1927, é uma de suas obras mais bem realizadas.
A partir de uma temporada de verão nas Ilhas Hébridas (Escócia), a família Ramsay e seus convidados rememoram situações do passado, em que misturam questões íntimas e banais, como o passeio de barco a um farol próximo, e com os fatos traumáticos da I Guerra Mundial.
"Rumo ao Farol" é um romance de narração delicada e tempo espesso. Tudo acontece mais na interioridade dos personagens do que em suas ações, e tudo chama para os detalhes  da sensibilidade individual. Mas nessas pequenas percepções se lê muito mais que a crônica do amadurecimento, da desilusão com a vida, do fim da infância, porque tudo se integra e se dissolve no andamento maior da história, que costuma ser grandiosa na decadência dos impérios.
Clássico é sempre clássico, mas muitos merecem destaque! "Rumo ao Farol" é um deles...

Cláu Trigo

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